Esta é a história de uma amizade que tem crescido ao longo
dos anos em torno da caça e da qual tenho um enorme gosto.
Tendo conhecido o Carlos Ferreira através de uma ligação
professional jà hà mais de 15 anos, e que ainda hoje mantemos, daí até
começarmos a caçar juntos algumas vezes por ano, e partilhar o gosto pelos cães
de parar, provas de Stº Huberto, pela perdizes e galinholas foi um pequeno
passo.
Desde aí, vários foram também os amigos que passei a
conhecer no Oeste, e em particular em Dois Portos, de onde é natural e residente,
não podendo deixar de salientar o seu primo, Joaquim Belchior, mas também o
Eduardo Serralheiro, e o Luis “Caixas”, e que compõem o seu habitual grupo de
caça às perdizes por ali.
Já tendo caçado várias vezes em Dois Portos, nos ultimos dois
ou três anos não me havia sido possivel aceder ao convite habitual. No entanto,
no passado domingo, voltei à sua aldeia, para uma caçada ás perdizes e faisões.
Caçada essa que me permitiu recordar mais uma vez toda a cordialidade e “saber
receber” destes meus amigos. O que a somar à espetacularidade de caçar na
magnífica paisagem do Oeste, coberta de um mosaico de vinhas e pomares, num
relevo de grandes declives, e onde é preciso “pernas e pulmão” para dar caça a
perdizes e faisões, torna a jornada, um dia sempre especial.
A sua forma prazenteira de estar na caça e na vida, já eu
conheço de hà muito e deixa-me sempre completamente encantado.
A caçada como é hàbito correu excelentemente! Tempo
soalheiro, sem estar quente, boa companhia e conseguimos algumas perdizes e
alguns faisões, em lances de grande beleza e grau de dificuldade elevado. Parece
que as perdizes se deixavam encontrar apenas por nós, já outros grupos e
caçadores com quem nos cruzamos, não mostravam caça ou pouca. Dada a dimensão
das vinhas e o facto de serem aramadas a necessidade de bons cães para caçar
ali é crucial.
Do Carlos, recordo, o optimismo incurável de um caçador de
Galinholas, a incomparável “fibra” de sempre, não havendo distância, ou declive
que se interponha entre a vontade de encontrar as perdizes naquela vinha mais
querençuda ou naquele pomar mais distante. Os seus setters e griffon korthals
batem muito terreno, mas ele não lhes fica atrás. Quanto ao Eduardo, também muito conhecedor dos
terrenos, sempre cumpridor na linha e sempre disposto a mais uma “pancadinha”, seguro
a atirar, completa-se nos seus bretons, que resolvem magnificamente o “cobrar” das
peças atiradas sobre as vinhas. O Luis “caixas”, muito caçador, e com perfil de
caçador solitário, parecendo-me sempre que anda menos, mas “bate” as mesmas distâncias
com a astúcia de saber sempre onde procurar e onde encaminhar a sua Perdigueiro
Português a mostrar caça. Basta perdê-lo de vista para acrescentar mais uma
peça ao cinto. Mata sempre bem. Guardei o Belchior para último, por um enorme carinho
e para lhe dedicar algumas palavras mais. Será dos caçadores de maior carisma que
conheci, e que durante muitos anos espalhou classe com os seus pointers, por
onde quer que tenha passado e passou por muitos locais. Pointers que corriam
como o vento e paravam caça com firmeza robótica. Também pelo seu feitio e boa
disposição tornou-se numa referência para muitos, não só ali mas por todo o
lado.
Todos eles evidenciam bem a paixão de caçar no Oeste.
Por exemplo em Pedrógão ainda hoje me perguntam pelo
Belchior e pelo Max, com enorme afeição. Para os seus colegas habituais e para
todos os que o conheciam pela primeira vez, esse efeito emblemático perpetuava-se
para sempre e isso ele nunca perderá. Mas foi nele que notei a maior diferença.
Sendo o mais velho do grupo, é caso para dizer que a idade não perdoa. E isso
deixa-me sempre uma nostalgia enorme, relativamente a um companheiro e ainda
mais caçador. Ainda assim acompanhou-nos, escolhendo terrenos, mas com a
sabedoria de quem conhece aqueles “pagos” hà mais anos que ninguém, e compondo
como sempre o cinto. Foi com um enorme prazer que o revi, espero que se vá
aguentando, na vida e na caça.
No final, já de chegada aos carros, e talvez sentindo o
cansaço em demasia, deixou escapar que esta seria a sua época de “despedida”
(espero sinceramemte que não!). Tendo-me deixado a sua “caça” com a generosidade
habitual, ofereceu-me ainda, de surpresa, a mais bela cena que alguma vez podia
esperar. E que oportunamente, hei-de escrever história. Agradeci-lhe a
recordação.
Na viagem de regresso a casa, e a só, pensava para mim, na
sorte que tenho, e porque continuo a gostar tanto da Caça.
Amigos, obrigado por tudo. Cá vos espero em Pedrógão este
Inverno.
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