Pedrógão
d`Aire é a maior Freguesia em área do Concelho de Torres Novas, possuindo cerca
de 3000 ha integrantes da ZIC – Zona de Interdição de Caça, pertencente ao
PNSAC – Parque Natural das Serras d´Aire e Candeeiros, com o qual faz fronteira
numa extensão de cerca de 8 km. A Freguesia possui cinco aldeias, Pedrógão
(sede Freguesia), Alqueidão, Vale da Serra, Casais Martanes e Adofreire.
Na memória
paroquial de 1758, valioso documento do século XVIII, para a história da Freguesia
de Pedrógão, e bastante informativo na descrição que faz da orografia, clima,
geologia, demografia e distribuição topográfica dos diversos lugares, o prior
de Santa Maria da Serra, Padre António Antunes de Melo, localiza a sua paróquia
junto à Serra d`Aire, referindo que “tem as suas planícies, mas mais são
outeiros e vales”. Este adianta ainda que “quase por toda a parte toa o chão,
quando se anda, ou bate, a vão, dando mostras de haverem muitas concavidades
como abódadas; e que algumas vezes se têm aberto alguns algares ou aberturas
fundas.” Quanto aos solos, prossegue ainda o inquérito régio de 1758, sobre os
lugares da paróquia, “o pão é pouco”, e ao referir-se ao Vale da Serra, informa
que estes “também lavram pão em serradas, com abundância, porque amanham muito
aquela terra que é pobre e neles se acha mais a simplicidade rústica”. Ainda
assim afirma que o “Alqueidão, Do Freire e Casais Martanes têm alguns lavradios
bons; o Pedrógão menos.” Concluí-se por aqui que Pedrógão embora o maior lugar
e mais povoado, não seria o mais fértil e abonado. A principal riqueza destas
terras era a oliveira, sendo o Vale da Serra o lugar priviligiado para esta
cultura. Como foi adiantado pelo prior Melo “a terra deste Vale é falgar
avermelhado, onde criam bem as oliveiras em muito menos anos do que em outra
parte, e por isso é tudo um olival continuado”. E mais adiante informa, que “no
entanto, todos os demais lugares têm muito olivedo também, e grande parte dele
(...) de zambujo, árvores formosíssimas, que dão algumas vezes de 6 a 9 sacos
de azeitona”. “Hà muita oliveira chamada lentisca, que se diferencia das outras
verdiais em ter a folha maior, e cor verde menos fechada, e a azeitona destas
ainda que não rende tanto em azeite, é mais fino, e singularíssimo para o prato
sem igual”. Para além da azeitona a memória paroquial elogia também o vinho e
refere que a casta de uva mais apreciada era a Malvasia, cujas passas, o pároco
assevera que “não tem inveja às de Alicante (Espanha). Este pároco menciona
ainda o facto de na sua Paróquia se criar “muita colmeia”, sendo a qualidade do
mel fabricado pelas abelhas enquanto à flor de Alecrim, “de que hà muita
abundância tanto na Serra como em baixo”, “tão excelente, que se podem fazer
doces de qualquer casta, como se fossem de açucar, sem gosto a mel.” Um outro
recurso dos povos locais, nestas terras de pastos pobres, era o gado miúdo
constituído por ovelhas e cabras, porque como também diz o inquérito “para o
gado grosso (esta terra) não é capaz.” Quanto à água bem essencial a qualquer
população, este refere que “todos os lugares da paróquia são muito abundantes
de águas e fontes, com excepção de Vale da Serra...”.
Sobre o
clima este refere que a região “não é nevosa, mas desabrida e ventosa”,
prosseguindo, “estes lugares do pé da serra, que fica ao norte, experimentam um
grande ímpeto de vento norte principalmente nos meses de Junho, Julho e Agosto,
quase continuamente. Açoita tudo de tal sorte, que todas as árvores mais mimosas
se enxovalham, por isso não hà pomares; as oliveiras suportando de pequenas
este ímpeto, vêm a ficar com algumas inclinações para a parte contrária. Faz-se
notar este rigor do norte, porque parecia que seriam estes lugares defendidos
dele pela mesma serra, mas é o contrário, descendo o vento com ferocidade, bem
como a àgua quando se despenha”.
Duzentos e cinquenta anos volvidos, esta descrição não podia ser mais fiél ao clima atual, no que toca a vento, e estará seguramente na origem do próprio nome desta serra - Serra d´Aire (i.e. Serra de Vento).
Duzentos e cinquenta anos volvidos, esta descrição não podia ser mais fiél ao clima atual, no que toca a vento, e estará seguramente na origem do próprio nome desta serra - Serra d´Aire (i.e. Serra de Vento).
Focando os
primeiros anos do Século XIX, é referido no Livro “Pedrogão d`Aire, fontes e
contributos para a sua história”, relativamente à caça, “a Freguesia de
Pedrógão, nas abas da Serra d`Aire, onde abundavam animais de pequeno porte,
como coelhos, lebres, perdizes e raposas, atraía muitos homens à caça, que era
uma actividade simultaneamente lúdica e lucrativa, porque abastecia de carne as
famílias durante a época venatória. Havia quem caçasse com pau e cão, outros,
mais abastados, caçavam com armas de fogo”. É transcrito neste livro precioso,
sobre a história de Pedrógão d`Aire, uma listagem das licenças “para ter e usar
arma de fogo” nos primeiros anos desse século, contando-se de facto escassos caçadores
com arma de fogo em cada uma dos lugares. Até aos anos 60 a evolução terá sido
mínima a nível da Caça, e apenas após o 25 de Abril se iniciam mudanças de
vulto, como de resto a todos os níveis. A partir dos anos oitenta a explosão
demográfica e melhoria das condições de vida resulta também numa explosão a
nível do número de caçadores. Assiste-se simultaneamente a uma explosão das
populações de coelhos, que conseguem ainda assim suportar esse aumento da
pressão cinegética. A partir dos anos noventa inicia-se o processo de redução
das populações de coelho, fenómeno que ocorre, não só em Pedrógão, mas a nível
nacional. Em Pedrógão surge o Clube de caça de local em 1990 e a partir daí
tem-se assistido à redução gradual da Caça Menor e dos Caçadores. Ainda assim,
o javali, que povou recentemente a ZIC do PNSAC, veio fazer alguma compensação.
E muitos caçadores tornaram-se quase exclusivamente caçadores-esperistas. A
caça menor atravessa actualmente o seu pior período de sempre, a nível de
sedentárias e migratórias(estamos em 2015!).
A grande
solução é caçar menos, mas melhor. É portanto momento de “repensar” a Caça, os
Cães, e cabe a cada um encontrar caminho para o “Caçador” e/ou “Criador” que é.
Pedrógão
d`Aire e os seus recantos naturais inseridos na Serra d`Aire são um local
mágico, para a Caça e para a Criação de Cães de Caça, onde coelhos, perdizes, Galinholas
e javalis lhes despertam os sentidos e aguçam o instinto.
(clique na Imagem para chegar ao google maps)
Sem comentários:
Enviar um comentário