(Tratamento dos cevadores com os meus filhos no fim de semana anterior à espera, e que me dá sempre grande prazer)
Chegado a data, e como é hábito, chego ainda cedo e
instalo-me. No entanto, não sendo completamente invulgar na Serra d`Aire, e em particular no Verão, em períodos próximos da lua cheia, com o cair da noite
desenvolve-se algum vento em demasia. O pinheiro que me serve de posto balança (em
excesso!) e não fosse ser a única data que disponho, forço em ficar, na
esperança de que amainasse com a descida da temperatura ( o que às vezes até
acontece).
(Vista do cevador na direcção frontal a partir do posto)
E algumas imagens a partir do posto,
No entanto, a força do vento não abrandou e cerca das 22:00h,
já com a noite bem "feita", já depois de ponderar várias vezes em abandonar a espera,
alcanço movimento na posição mais distante, a coberto das sombras que se
sobrepunham à comida. Consigo a custo distinguir um focinho esbranquiçado, em
jeito de “toca-e-foge” na comida, sem que no entanto fizésse qualquer ruído. Essa
confirmação deixa-me o coração num salto, afinal lá estava “ele” e eu quase a
decidir ir embora. Enquanto procuro avaliar noto que não se afasta do escuro,
mas pelos movimentos mostrava-se irrequieto, e muito desconfiado com as rajadas
de vento. E sem aviso, após escassos minutos... sai num ápice. Fico por ali à
procura, sobretudo nos outros pontos de comida, no entanto sem sucesso. Passados
30 minutos, penso para mim que terá ido mesmo embora depois de comer por alguns
momentos a “gulosice”.
É nesse silencioso jogo, de sombras escuras tocadas a vento,
que pouco me deixariam ouvir seguramente, e reflexos, promovidos por uma lua
ainda tímida e praticamente inexistente ao nível do solo que canso a visão em
torno do óculo. Porém, já nalgum desgaste volto a ver novamente o animal, ao
cutelo, de focinho na direcçao do posto, esquivo, muito esquivo. A avaliação
que faço dele, é que era “grande”, e seria o Navalheiro que me tem trocado as
voltas, já de hà várias esperas para cá...
Naquela espécie de conflito, em jeito de pedir a mim mesmo uma
decisão,
>tinha novamente o Navalheiro à minha frente ( o porco
que eu tanto queria!)
>mal o conseguia ver, é certo (a menos de umas focinhadas
esquivas)
>mas ele não se atravessava, mantendo-se ao cutelo, o que
me dava ainda menos hipóteses (teria de ser um tiro a entrar ao pescoço calculo
em pensamento)
>o posto abanava que nem “varas verdes” e por isso fazer
um bom tiro não era seguramente uma garantia
> mesmo habituado a estudar os ventos por ali não seria
exactamente “favas contadas” (as rajadas de vento funcionam como às ondas e de x
em x vem uns momentos de acalmia)
...tudo somado e medido, decido que tinha de fazer tiro e
assim foi! Depois de todas as contas possíveis e imaginárias e no momento devido,
primo o gatilho da CZ 30.06. O porco sai como se estivesse certo que alguém o ia
importunar naquela noite, rápido e musculado. Não me pareceu que acusasse fosse o que
fosse, para além da normal velocidade "acelarada", mas nunca se sabe...
Como sempre, espero 30-40 minutos e desço. E sempre com a
esperança de ver um rasto de sangue abundante. Nada disso. Não consigo detectar
uma gota de sangue, uma lasca de osso, pêlo, qualquer arranheiro no chão, zero... parece que tinha
errado mesmo... E fica sempre aquela pontinha de desânimo.
Não consigo no entanto encontrar a entrada da bala no chão
ou no mato... coisa que me intriga. Decido ainda procurar ali nalguns carreiros,
de lanterna na mão na esperança de que possa sangrar mais longe, em esforço, em
movimento... mas não, também não consegui encontrar nada. Decido ir sossegar.
Entre chegar a casa e arrumar as coisas já não seria menos de meia noite.
Enfim, fica para uma próxima...
(como sempre, e com ainda mais vontade, repetia eu para mim).
(como sempre, e com ainda mais vontade, repetia eu para mim).
Na chegada a casa, relato ainda ao meu pai que errei o grande
Navalheiro... e prometo-lhe que lho trago numa próxima (só não sei quando, como
é lógico...). E história encerrada.
____
No fim de semana seguinte (a 24/07/2016, exactamente 8 dias depois), volto
ao cevador para tratar e verificar se o Navalheiro havia voltado. E para espanto
meu alguns pontos de comida estão completamente “comidos” e outros têm ainda alguma comida,
mas apenas as pedras afastadas cirurgicamente. A dada altura, sinto de súbito,
cheiro a putrefacção, caminho na direcção da aragem quente da tarde e para
espanto dou com um porco de 60-70 kg já completamente “desfeito”, com cerca de 3
cm de navalha exposta e a não mais de 25 m do local de tiro.
Pois, era o meu “Navalheiro”, que não tinha sido errado, e
também não era o Navalheiro, mas um “candidato” a Navalheiro (ou talvez o seu Escudeiro).
(Javali já em extrema decomposição)
Ainda assim fiquei contente em encontrá-lo, em saber que não
o tinha errado, e que pelo menos conseguiria recuperar o seu troféu.
Mais uma espera, e mais uma história... a acrescentar ao
diário de um Caçador.
(*Na Serra d`Aire este é o meu 58º Javali, sendo possível que
tenha "errado" ainda um ou outro, que se tenha ficado por lá...)
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